sexta-feira, 4 de setembro de 2009

umãpe xe raperana

Banzo
(Itamar Assumpção)

Às margens do rio Sena
Me lembro do Amazonas
Da minha raça morena
Bordunas e pés de cana
Das procissões, das novenas
Das praias com suas dunas
Penha, Vila Madalena
Dos Paiakans, dos Jurunas
Lembro Xangô, Janaína
Tupã, Roraima, Itabuna
Dos brancos cá Caraíbas
Paris me lembra Criciúma
Porto Alegre, tri Curitiba
Gurias loiras, morenas
Me lembra rio Parnaíba
Pará, Paraná, Paranapanema
Aqui e lá há lacunas
Mas não há lá Iracemas
Me lembro que a cobra fuma
Na França ou Ipanema
Remember da minha tchurma
Piquet, Fittipaldi e Senna
São Paulo, usina de Furnas
Umãpe xe raperana*

* onde será o meu caminho? (tupi)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vou-me embora pra Pasárgada

Talvez um dos segredos da vida seja construir muitas Pasárgadas, para nelas transitar e produzir, para nelas se alimentar e se fortalecer. Encontrar lugares de poder, como dizia o índio Don Juan em seus ensinamentos a Castañeda. Não apenas um, mas muitos, que alimentem os sentidos e abram as portas à criação.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Louvação


"Vou fazer a louvação do que deve ser louvado

Meu povo preste atenção, repare se estou errado

Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado

E louvo pra começar" Gilberto Gil e Torquato Neto, de quem emprestei esses versos, e, através deles, todos os músicos fantásticos da nossa MPB, e a música, musa-paixão.

Louvo meu amado, e todos os que têm a coragem de amar.
Louvo meus pais, sogros, tios, avós, babás, todos que acalentaram/acalentam a mim e a minha família.
Louvo meus filhos, netos e enteados, seus amores e amigos, sobrinhos, orientandos e alunos, todos que me permitem cuidar-ensinar e beber na fonte da juventude.
Louvo meus irmãos, amigos, cunhados, primos, colegas, todos com quem vivo a fraternidade.
Louvo terapeutas, guias, mestres, supervisores, todos os que se dedicam à arte de curar e desenvolver.
Louvo pacientes, grupos e instituições, todos com quem compartilhar loucuras e desdobrar sentidos.
Louvo escritores, filósofos, artistas, todos os que encantam e desvendam as belezas e mistérios do mundo.
Louvo inventores e todos que, com seus engenhos, rompem fronteiras, ampliam capacidades e aguçam sentidos humanos.
Louvo as diferentes paisagens, culturas, climas, povos, idiomas, fontes da multiplicidade.
Louvo a natureza, em todos os seus elementos e manifestações.
Louvo enfim todos os encontros que vivi e vivo, em suas alegrias e tristezas, fonte da minha escrita, "materiales que forman mi canto, y el canto de todos, que es mi propio canto" (Violeta Parra).
Pois o que é o autor senão, como diz Gregório Baremblitt, um "terminal de cabo"? Meu livro: uma rede onde se entrelaçam idéias e sensações advindas das mais diversas fontes, expressas ao meu modo, filtradas pelo crivo da minha experiência.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Religião do encontro"

Um amigo sugeriu que tenho o desejo de ser deus porque organizei os princípios do amor em dez mandamentos. Melhor assumir logo a pretensão, pois, como comprovou Moreno, o inventor do psicodrama, “a única forma de livrar-se da síndrome de Deus é desempenhando-a.”

Chegou a criar a “religião do encontro”, na qual propõe uma relação horizontal com Deus. É dele o belo poema que celebra o encontro, do qual destaco o trecho mais conhecido, e meu predileto:
"Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."

Como Moreno, busco a liberdade, embora por outros caminhos. A minha é uma religião individual: sou eu a deusa, a sacerdotisa, a praticante. Não procuro adeptos; pretendo apenas compartilhar minhas descobertas. Há um prazer em anunciá-las, mesmo quando tantos já o fizeram antes de mim.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Multiplicidade

Quando meu neto Pedro era pequeno, eu queria ser como ele, olhar o mundo com olhos de criança.



A cada momento assume um personagem diferente. Muda a voz, a postura, os gestos... e se torna um herói. Muda tudo de novo, e é outro herói. Ou um nenê. Ou volta a ser um menininho de três anos. E entra de tal forma no personagem que se recusa a responder se alguém o chama pelo nome errado.

Sabe ser todos os nomes, e nome nenhum.

domingo, 17 de maio de 2009

O caminho do tesouro

“Ai, o amor é um capitoso vinho
Que nos embriaga com um só pinguinho"
(Sinhô)

Dediquei muitos anos de minha vida tentando decifrar os mistérios do amor; não com propósitos científicos, mas movida por uma curiosidade interna. Essa busca acabou me levando à descoberta de um tesouro: o encontro amoroso, experiência de grande intensidade e potência. Tesouro extremamente precioso, e também perigoso, porque deriva diretamente do desejo. “Desejo é produção”,dizem Deleuze e Guattari, liberá-lo é revolucionário.

Meu livro não oferece o mapa do tesouro. Trata-se antes de um caminho de iniciação, de experimentação, e, como tal imprevisível. Seus resultados dependem, sobretudo, do próprio experimentador.

Acima de tudo, que ele se disponha a abrir-se ao encontro amoroso, sem medo, sem vergonha, sem culpa. No shy, no shame, no blame.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Meu "guru", Gregório Baremblitt,



que me deu a grande alegria de escrever o prólogo do livro. Sob sua orientação e inspiração, me aventurei pelos caminhos difíceis e fascinantes da esquizoanálise. Com ele aprendi a regra básica: combinar a infinita audácia com a infinita prudência. Audácia, para se arriscar “por mares nunca navegados”; prudência para não se perder ou naufragar na empreitada.

sábado, 9 de maio de 2009

Gratidão

Como Violeta Parra, “agradeço à vida que me deu tanto”: me deu olhos para enxergar o mundo que me rodeia e para olhar nos olhos de quem amo; ouvidos para escutar os sons do universo e as vozes do amor; palavras para pensar e para compartilhar pensamentos e afetos; pés para percorrer estradas, visitar paisagens distantes e lugares próximos; coração para pulsar em consonância com as mais diferentes manifestações da realidade. E “me deu o riso e me deu o pranto, assim eu distingo dor e alegria, os dois materiais que formam meu canto”.